Eu ainda estudava no colegial. Faz muitos anos, mais de 10.Eu fazia colegial Técnico em Processamento de Dados, que virou Técnico em Informática.

Era legal, tão legal que eu adorava programação, coisa que detesto hoje em dia. Eu desenvolvia programas de computadores. Pra quem é da área, é interessante. Pra mim era.

Foi uma das melhores fases da minha vida. Sabe aquela fase que você quer jogar pra sempre no vídeo game. 

Pois, era essa!

Eu me diverti demais. Podia até ter mais disso, mas foi muito bom.



Nessa fase da vida, eu descobri muitas coisas. Tive minha primeira vez, minhas primeiras namoradas, meus primeiros melhores amigos, minhas primeiras notas muito boas, enfim, os momentos foram tão bons que chegam a me arrancar lágrimas.


Algumas dessas lágrimas foram de dor mesmo. Como da vez que eu estava ficando com uma menina do segundo ano, gatíssima, e ela me trocou pelo cara da equipe de natação. Eu não sei porque! Será que era porque ele tinha 1,92 e eu 1,68? Ou foi porque ele tinha barriga tanquinho e eu barriguinha de breja? 
Até hoje não entendo. Se bem que dizem que quando a barriga é tanquinho, existe uma torneirinha embaixo…

Outra dessas muitas lágrimas, foi em uma desventura.


Como bom moleque, eu tinha uma bike. E ela era cross. Eu tinha uma Caloi Cross. Toda em alumínio, preta e dourado, linda! Linda mesmo! Linda e resistente. Todo adjetivo que eu dava à ela tinha a palavra ‘linda’. Todo adjetivo que ela ganhava da galera era ‘linda’ alguma coisa.
O mais da hora da bike é que ela era original. Inclusive os adesivos. Era foda! Como uma boa bike cross, ela não tinha marchas, e isso pouco importava, ela era foda! Foda e linda.

Nessa época, eu tinha um amigo. Um amigão. Sinto falta dele hoje.
Meu amigo era o Duzinho. Duzinho, porque na sala tinham dois Eduardos, o Duzão, e o Duzinho. Eu era o Paulinho. Aliás, eu sou o Paulinho, sempre fui.
Bom… eu e o Duzinho andávamos juntos pra cima e pra baixo. Se não fosse na casa dele, era na minha. Parceirão mesmo.



A condição financeira dele era infinitamente superior a minha. E isso não fazia a menor diferença. O cara NUNCA jogou na minha cara algo que ele tinha e eu não. SEMPRE me tratou de igual e isso eu admiro nele até hoje.
Perto da casa dele, tinha um terreno onde o pessoal fazia cross. Hoje esse terreno é um conjunto de prédios numa área nobre da Zona Leste.


Na época não era.


E nessa época eu era mais resistente a dor. Pelo menos eu achava que era.O Duzinho não tinha bike. Eu tinha a minha linda bike. Ou ele tinha bike e eu não estou lembrando agora.
A gente pulou o terreno, porque entrar por qualquer entrada seria uma chatice. Foi até que moleza entrar com a bicicleta.
Forçando a memória agora, realmente não lembro dele estar com uma bike. É foda ter quase 30.

A trilha no terreno era animal. Tinha subidas, descidas, rampas, desníveis. Era show. Tudo que uma pista de cross precisaria ter ali tinha. Tinha muito mato também. O mato era do pouco uso. Pouco uso porque muraram o terreno e a galera tinha que pular pra entrar.



E numa rampa dessas, eu inventei de pular. O Duzinho falou pra eu não pular, que se eu caísse ia ser foda, ia machucar, ia doer, blablabla.

Eu não liguei muito não. Na hora comecei a aloprar ele: “O neném tá com medinho? Pópópópó, pópópópópó… ” (sim, eu sei imitar galinha… )



Ele só me olhou. Não respondeu. Mas eu sabia que ele estava mandando eu me f*der.

Forçando mais a memória, eu lembro que ele estava com uma bike, mas não lembro como ela era. Acho que era vermelha. 

Ráaaa, pensa que ter trinta é não ter memória…


Eu, O Malandrão, me preparei pra pular. Na hora lembro de ter pensado ‘eu sou foda, vou pular alto pra C***lho. E fui.


Vocês lembram do desenho do Super-Homem? O desenho antigo? Aquele que quando ele ia voar ele falava ‘Para o Alto, e Avante!’. Lembram?!



Pois bem. Foi o que aconteceu. Eu prum lado, a bike filha da puta pro outro. 
Quando eu caí, a única coisa que eu escutava era o Duzinho se rachando no chão. Ele parecia um desenho animado se contorcendo de dar risada.

Filho da p*ta! 
O v**dinho, ao invés de me ajudar, tava se mijando de rir de mim.



Eu caí em cima do braço e da perna do lado esquedo. Ralou tudo. Além de ralar, tava doendo muito. Velho, que ódio. Eu pensei que dava, só errei no cálculo do salto. Pensei que poderia ir rápido que daria. E estava errado.


O Duzinho, depois de se recompor, e ainda com os olhos cheio de lágrimas de tanto rir, veio me ajudar: “Machucou aê mano?”
E ria, ria que se mijava. Respirava fundo, perguntava se tava tudo bem, e ria de novo. Aí, eu, com a maior cara de bunda de todos os tempos, falei pra gente ir embora.



Até hoje, sempre que lembro disso, lembro das risadas dele. Sinto falta. Acho que ele foi um dos melhores amigos que já tive.


Recentemente nos encontramos, fomos tomar uma. Ele, eu e o Luiz, um retardado que só era zuado no colégio. Pude dizer isso à ele. Pude dizer que ele foi o melhor amigo que tive naquela época e que eu gostava muito dele. Pedi desculpas por ter me distanciado tanto.


E nunca mais pulei de uma rampa. Pelo menos não de bike. Não com a minha ‘linda’ bike filha de uma p*ta bem grande!

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