Tá rindo do que?

Essa história aconteceu em 2008. Não lembro o mês.

Eu trabalhava em uma empresa de auditoria, daquelas que o pessoal costuma chamar de BIG4. Mas mesmo eu sendo do setor de informática (TI), eu precisei participar do treinamento de contabilidade.

Eu tive contabilidade no colegial, mas porque era colegial técnico. E mesmo assim, era Técnico em Processamento de Dados, ou seja, TI, ou seja, pra que eu estava tendo aquela porra?

Enfim! Dez anos depois, contabilidade me assombrava de novo. O tempo do treinamento era de uma semana útil, começando em uma segunda-feira.

Era novo de empresa, entramos em uma turma de 11. Nem todos da turma participavam do treinamento nesta data. O que não tirou o ‘brilho’ do treinamento. Como estávamos sempre em clientes, pouco nos víamos, e quando isso acontecia, ah, era bagunça na certa.


O treinamento rolando, e eu como bom aluno, sentei na primeira fila, entre duas mulheres da minha turma (vamos chamá-las de Maryjane e Isa22). Feito alcançado depois de afirmar confiantemente que já havia tido Contabilidade e que seria muito fácil pra mim. Mentira!  

Eu não lembrava picas de nada. Nada de nada! Eu fiz aquilo pra contar vantagem, e acabei conseguindo a companhia delas. Companhia essa, ‘super’ sem interesse.

Na fileira de trás, Sentou mais um colega da mesma turma (o qual vamos chamar de Graubis), que não conseguiu espaço para sentar na mesma fileira. Ele sentou bem na esquina, próximo ao corredor. À minha direita, Isa22, consequentemente à esquerda, Maryjane.

Em um dado momento do treinamento, eu estava conversando com o Graubis por chat interno, um tipo de MSN corporativo (que eu não vou fazer propaganda porque eles não vão/estão pagando nada por isso). Em um dado momento porra nenhuma, a gente ficava o tempo todo no chat. E não só com ele, com quase todo mundo do treinamento.


Lá pelas duas da tarde, Isa22, morrendo de sono, olha pro meu note, vê que eu estava conversando com o Graubis, e fala, na maior das inocências: 

Pede pra ele pegar um café pra mim Paulo?

Na mesma hora mandei pro cara: 

Velho, a mina aqui pediu pra você pegar um café e te chamou de garçom.

A resposta dele foi bem agressiva: 

Fala pra ela que se ela falar isso de novo, eu vou aí e soco a cara dela na tela do note dela.

Imediatamente eu comecei a rir. Eu ria compulsoriamente. Ao mesmo tempo que eu segurava o riso, eu ria mais e mais. Fui ficando vermelho e não conseguia parar.
Aos poucos, respirando fundo, eu melhorei. Eu devo ter ficado assim por alguns segundos, no máximo um minuto. O fod* que pareceu uma eternidade, como qualquer momento embaraçoso.


Passou! Me recuperei. Olhei a tela e voltei a digitar. A Isa22 falou novamente: 

Paulo, pediu pra ele pegar o café pra mim?!

Apenas copiei e colei o texto pro Graubis. A resposta dele foi: 

Mano, vô dá um soco nessa mina! Vô pegar a cabeça dela, bater no teclado e depois fechar o note várias vezes com força nessa cabeça dela.

Eu surtei. Eu imaginei a cena toda, visualizei tudo, e gargalhei. Eu chorei de rir esse dia. Levantei da mesa, rindo compulsoriamente, rindo tanto que eu chorava junto, além de doer a barriga. Olhei pro professor, e saí da sala correndo, porque eu não estava conseguindo me conter.

Saí no corredor e continuei rindo. Me deu uma mijaneira em sequência. Corri pro banheiro. Depois, lavei o rosto, tomei água, tomei café, mais água. Tudo isso rindo. Desci de elevador ao hall. Sentei na área de fumantes, pedi um cigarro pra um cara lá e fumei, rindo.


Devo ter demorado uma meia hora. Voltei, lavei as mãos, e fiquei mais um pouco no corredor. O Graubis veio me procurar, e tava até com uma cara de preocupado mesmo. Disse que parecia que eu estava chorando. Que a galera ficou comentando que eu saí chorando. Menos mal. Vai ver, pensaram que aconteceu algo. E vai ver que foi por isso que ninguém veio me perguntar o que tinha acontecido.

Sei que, essa história é tão nítida na minha cabeça, que sempre que lembro rio. Espero que você tenha rido também.