Estava sem inspiração esses dias.
E sem inspiração, não sai nada.
Mas tem tanta coisa engraçada acontecendo na desgraça do dia a dia, que dá pra falar de qualquer coisa, é só ver a graça na desgraça própria, ou alheia…

Leiam e entedam:

Falando na desgraça, eu ando de metrô. Como toda desgraça pra pobre é pouco, eu ando de metrô todo santo dia. Até de fim de semana, que, supostamente, era pra eu não trabalhar, eu acabo andando de metrô. É como se ele me perseguisse.


E como todo dia são mais de 3 milhões de pessoas indo pra lá e pra cá no metrô de São Paulo, imaginem a quantidade de coisa que acontece. É nessas horas que dou Graças a Deus de ser somente um usuário, e não um funcionário.

Uma das coisas aconteceu esses dias. Eu pego na primeira estação da linha verde, na Vila Prudente. De lá, já sai cheio. Eu entro e tento sempre ficar perto da porta em que eu vou descer. Só que todo mundo tem essa mesma idéia. Então, tento ficar, pelo menos, no corredor, próximo da porta. E aí que acontecem as coisas. Nas portas é sempre o mesmo empurra-empurra, as discussões de quem empurrou quem, sem graça. Mas no corredor, é ali, que as coisas engraçadas realmente acontecem.


Estava eu, parado em frente a um banco para idosos, gestantes, pessoas com crianças de colo ou deficientes, quando entram duas mulheres na estação Sacomã. Provavelmente, mão e filha. Elas eram bem parecidas, além de ter o mesmo bafo de meia com chulé.

Eu, educadamente, dei espaço para a senhora sentar. Diga-se, ela tinha menos de 60 anos. Mas como ela estava bem acabadinha, com uma cara de puta véia em fim de carreira, não me incomodei. Só que, quando dei espaço pra velhinha sentar, a filha bafuda tentou se envolver na transação, pensando que eu ia deixar ela ficar onde eu estava parado.


Foi aí que começou a brincadeira. Digo, “brincadeira”, porque só foi engraçado pra mim.
Antes de eu seguir, imaginem: 8h15, estação colada ao terminal de ônibus do antigo Fura-Fila, já estava cheio. Entra mais gente, muita gente, todo mundo apertado, não dava para eu ir um passo pro lado pra deixar ela ficar ali, falando com a mãe dela.


Logo, fiquei onde estava. Como se não bastasse, elas começaram a falar mal de gordo. Eu, nos meus 1,70mts, 95kg, de terno e gravata, em um metrô abarrotado de gente, transpirando por baixo do paletó, deveria mesmo escutar aquilo e não fazer nada?

Aham. Já sentou Cláudia?

E enquanto eu escutava aquilo tudo calado, elas falavam que gordo precisava de espaço, que tinha até banco especial pra gordo, porque eu estava ali em pé atrapalhando elas. Falaram um monte de coisas. Isso tudo, só entre uma estação e outra.


Esse trajeto é feito a mais ou menos 90km/h. Quando o condutor freia, ele não para devagarinho, se preocupando com as milhares de pessoas que estão espremidas dentro, ele vai freiando de uma vez. Quando para de uma vez, dá um tranco.


Visualizem: Eu, bem perto do banco, que fica bem perto da barra de apoio/sustentação. A filha da velha se espremeu entre eu e a barra, e como se não bastasse, ficou falando mal de mim, o gordo.


Quando parou de uma vez, eu simplesmente deixei o corpo ir. Meu peso todinho bateu na cabeça dela, que consequentemente, bateu a cabeça na barra de ferro.

Foi uma pancada meu, mas uma pancada. Foi uma puta pancada. Fez aquele “TUC” muito forte. E do jeito que eu estava eu fiquei. Virei o rosto pra filha da velha e falei “desculpa” na maior cara de pau, como se tivesse sido uma coisa sem importância. De fato, pra mim foi mesmo.

Ela ficou puta da vida, obviamente:
– Ai moço, minha cabeça!
Com a mesma cara de paisagem, virei e falei novamente desculpa. A velhinha só olhava. A filha resmungando 
– Não tá me vendo não?!
Sem levantar a voz, respondi educadamente:
– Tô. Mas ninguém mandou se enfiar onde mal cabia eu. Como você mesma tava dizendo, eu sou gordo, preciso de espaço, e você estava no meu espaço.


A filhotinha ficou passando a mão na cabeça, onde bateu, com os olhos cheio de lágrimas.

Minha estação chegou, a Consolação, e eu desci. As duas falaram muitos palavrões pra mim enquanto eu virava as costas. Só que elas esqueceram que nesta estação desce quase todo mundo.


Eu me virei, e rindo, mostrei o dedo do meio para elas. Na sequencia, tirei o maior sarro da filha, fazendo biquinho e colocando a mão na cabeça.

Elas continuaram me ofendendo, e quanto mais putas elas ficavam, mais engraçado era.
 
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